Piedade para esta terra que me sonega o amor | 2024 - Longa-metragem

Sinopse

Prêmios / citações

  • Participantes Laboratório de Roteiros Documentais – 21º Goiânia Mostra Curtas – 2022
  • Participante Oficina de Roteiro – Marta Nehring – Fevereiro a Junho de 2023

Num período em que as distâncias eram marcadas por ligações telefônicas e notícias compartilhadas através de cartas, Magda Machado tomou uma decisão que mudaria sua vida para sempre. Com pouco menos de 20 anos, enfrentou uma série de tragédias pessoais: seu irmão foi preso pela ditadura militar e, enquanto buscava informações sobre ele, sua mãe faleceu em um trágico acidente de carro. É neste contexto que o documentário adentra a história de Maguinha, revelando um capítulo fundamental da história do Brasil, marcado pelo nascimento e queda de uma ditadura, e pela partida permanente de muitos de seus cidadãos.

Diante dessa tragédia pessoal e da crescente insegurança que dominava o Brasil, Maguinha tomou as rédeas de seu próprio destino. Sua jornada a levou do Brasil a Nova York, passando pelo Japão e pela Suécia, com várias paradas na Itália. Nesse percurso, emergiu a figura de uma mulher forte, que experimentou duas maternidades, quatro casamentos, mas que nunca pôde se desconectar de sua terra natal, o Brasil. Mesmo após 40 anos, é na língua portuguesa que ela cria suas músicas e canta, independentemente de onde esteja. É em português que se comunica com seus filhos italianos e permanece sintonizada com as notícias diárias do Brasil.

O filme acompanha a jornada de Maguinha da Suécia, onde vive ao lado de seu marido holandês, até a sua chegada ao Brasil para o lançamento de seu próximo álbum. Entre entrevistas, filmes de família, notícias da época e, é claro, muita música, construímos uma narrativa sobre a saudade e o desejo de ser fiel a si mesma, apesar do tempo, das mudanças políticas e das dores que a vida impõe, e independentemente das fronteiras. “Piedade para esta Terra que me Sonega o Amor” é um mergulho na alma de uma artista que, ao longo de sua jornada, preservou seu amor pelo Brasil e pela música, enfrentando assim todas as adversidades.

 

notas da diretora

O ano era 2020, mas lhe enviei uma carta em forma de e-mail, depois nos telefonamos e por último nos vimos por vídeo. Piedade para esta terra que me sonega o amor é um filme sobre saudade, sobre política, sobre liberdade, sobre uma mulher que passou a vida tentando ser o que ela nasceu para ser: uma cantora brasileira.

E como vou contar essa história? As principais referências estéticas de “Piedade para esta Terra que me Sonega o Amor” são: Patricio Guzmán, Agnès Varda e Eduardo Coutinho. De Guzmán, o que me inspira é a sua a capacidade de relacionar a história chilena, especialmente a ditadura militar, ao presente do país, tomando como referência “A Cordilheira dos Sonhos”. De Coutinho, meu foco é no poder de suas entrevistas, a liberdade que ele tinha para acessar as emoções dos entrevistados e a exploração de questões filosóficas da vida e da sociedade, com destaque para “O Fim e o Princípio”. Já Agnès Varda me inspira por sua busca incessante pelo encontro com o outro, seja no documentário ou na ficção, compartilhando sua criação através de “Agnes por Varda”.

Considerando essas inspirações podemos afirmar que o documentário vai traçar uma jornada no tempo, onde a história pessoal de Maguinha se entrelaça com os acontecimentos marcantes do Brasil nas décadas de 60 e 70, conectando tudo ao presente, quando ela se prepara para lançar seu próximo álbum.

As escolhas visuais do filme são construídas para fortalecer a memória dessa mulher que vive longe de seu país natal. E nessa jornada de reconstrução vamos fazer uso de fotos, objetos e ambientes familiares, assim como eventos históricos, por meio de reportagens e documentos. Farei uso ainda de entrevistas diretas com Maguinha, que serão realizadas na Suécia. Também na Suécia vamos acompanhar o seu dia-a-dia, com um atento olhar observacional, mas criando situações que nos mostrem onde o Brasil resiste no frio congelante da Suécia. E por último o filme nos trás de volta ao Brasil, junto com Maguinha, para o lançamento do seu próximo álbum.

Entre fotos, vídeos de família e notícias não perderemos de vista que o centro da história é a Maguinha, portanto a câmera busca por ela em cada objeto, cada música, cada cena. É a sua própria voz que nos guia, seja por meio de palavras ou canções. O filme abraça uma dualidade essencial, pois enquanto expõe um passado marcado pela violência, também revela uma artista profundamente sensível, que será possível revelar a partir das gravações em diversos suportes, proporcionando momentos de intimidade e reflexão.